As pessoas que tiveram Covid-19 podem desenvolver incapacidades que interferem na sua qualidade de vida e independência funcional, mesmo as que apresentaram sintomas leves na fase aguda (febre, tosse, dor de garganta) sem alteração de imagem pulmonar até as que necessitaram de ventilação mecânica.
Reabilitar esses pacientes, que são presença constante cada vez mais nos serviços de reabilitação, transformou-se em um grande desafio da medicina pelo impacto bio-psico-social que acarreta, muitas vezes ultrapassando o tempo de tratamento da fase aguda.
Os pacientes pós-Covid relatam perda de memória, ansiedade, depressão, distúrbios do sono, dor crônica difusa, fadiga para realizar tarefas do cotidiano, cefaleia, presença de deformidades adquiridas, anosmia e disgeusia, além de sequelas motoras, cardíacas e neurológicas, não necessariamente nesta ordem.
Permeando esses achados observamos a disfunção nutricional e/ou a presença da Sarcopenia (do grego sarx = carne, penia = perda) secundária, uma das principais causas da fragilidade e considerada uma síndrome médica relevante e tratável. Ela está presente nestes pacientes e pode ser definida como “estado de vulnerabilidade”, manifestado por reservas fisiológicas diminuídas que afetam a capacidade de manutenção da homeostase caso haja exposição a fatores de estresse.
Para o diagnóstico da sarcopenia, em 2018, o Grupo Europeu de Trabalho sobre a Sarcopenia em Idosos atualizou os critérios, considerando a baixa força muscular como determinante para o diagnóstico em detrimento da quantificação inicial da massa muscular e o baixo desempenho físico tornou-se um critério de gravidade da doença.
Feridas, infecções do trato urinário e internação prolongada (comum nos pacientes com Covid) podem resultar em graves consequências, como aumento da dependência a cuidadores, necessidades de cuidados de enfermagem e maiores predisposição de quedas.
Em nosso serviço de reabilitação, no Complexo Funfarme/Famerp, chega um grande número de pacientes com disfunção nutricional e/ou sarcopenia que impactam o desfecho do tratamento: não conseguem realizar os exercícios propostos pelos terapeutas. São donas de casa incapacitadas de realizar as tarefas domésticas rotineiras. Outros apresentam déficits de deglutição ou distorção do olfato e paladar com dificuldade de alimentação e há pacientes com feridas adquiridas pelo decúbito prolongado nos leitos de UTI.
Independentemente do tipo de ferida, o estado nutricional do paciente influencia na capacidade de cicatrização. Paciente com perda de massa magra inferior a 10%, a ferida tem procedência sob o substrato de proteína disponível. A medida que a massa magra diminui a proteína é utilizada para restauração da massa magra com menor disponibilidade para a ferida. A cicatrização é retardada até a restauração da massa magra. Lembramos que uma perda de massa magra maior que 30% do total, as feridas podem se desenvolver espontaneamente devido a fragilidade da pele por perda de colágeno.
Nutricionistas, fisiatras, fisioterapeutas, enfermeiras, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfim, felizmente, em nossa região, dispomos de serviços de saúde e reabilitação com equipes multidisciplinares especializadas e capacitadas para oferecer tratamento de qualidade e humano aos milhares de pacientes que triunfaram sobre esta grave pandemia.
Dra. Regina Helena M. Fornari Chueire é médica fisiatra, professora adjunta da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) e diretora do Instituto de Reabilitação Lucy Montoro (IRLM) de São José do Rio Preto.